A diretora de Educação Profissional do Senac-Departamento Nacional, Anna Beatriz Waehneldt, apresentou na tarde desta sexta-feira (3), durante o 21º Congresso Internacional de Inovação na Educação, a palestra “Educação Profissional e Políticas de Inovação: Caminhos para a Qualificação e o Futuro do Trabalho”.
Com base em pesquisas recentes desenvolvidas pelo Senac, Anna mostrou como a inteligência artificial tem auxiliado na identificação de tendências e no mapeamento do impacto da automação nos setores de comércio, serviços e turismo. “Se a gente fosse fazer de uma forma analógica, eu ia estar fazendo até agora essa pesquisa. Em poucos meses, usando a inteligência artificial, conseguimos gerar o entendimento de que tecnologias vão impactar os setores”, afirmou.
Entre as inovações analisadas, destacam-se análise de dados, IA aplicada, impressão 3D, internet das coisas, realidade estendida e plataformas digitais. Segundo a pesquisa, “83% das tecnologias indicadas têm potencial de ampliar a capacidade dos trabalhadores, ou de gerar novas atividades, o que é uma boa notícia”.
Anna também ressaltou quais ocupações tendem a ser mais afetadas pela automação — como técnicos em contabilidade, secretários e designers de interiores — e quais devem resistir por mais tempo, como podólogos e profissionais de gastronomia. Citando o filósofo Luc Ferry, destacou que “as ocupações que não serão afetadas profundamente com a inteligência artificial são aquelas que trabalham de forma conjunta, com mente, coração e braços”.
A diretora apresentou ainda o estudo Economias do Futuro, que identifica cinco áreas estratégicas: economia verde, criativa, do cuidado, do turismo e digital. Segundo ela, a economia digital concentra as maiores médias salariais, enquanto a economia do cuidado reúne o maior número de profissionais empregados.
Para enfrentar os desafios da evasão escolar e preparar melhor os jovens, Anna destacou duas estratégias-chave: o modelo dual de ensino, que integra formação técnica e experiência profissional com contrato formal, e a verticalização da oferta, que conecta cursos técnicos a graduações tecnológicas, aproveitando cargas horárias e encurtando percursos.
Outro destaque foi o Programa Educação 4.0, que reformula o portfólio de cursos do Senac para atender demandas de requalificação e aperfeiçoamento contínuo (upskilling). “Há uma demanda maior hoje no mundo do trabalho por requalificações, ou seja, um profissional está numa área e quer ir para outra. É o caso dos engenheiros que mudam para a TI”, disse.
Anna também apresentou a recém-criada Rede Senac de Inovação, iniciativa sistêmica que conecta departamentos regionais e fomenta hubs, núcleos de pesquisa aplicada e ICTs (Instituições Científicas e Tecnológicas de Inovação). Pernambuco e Amazonas foram citados como referências, já com resultados consolidados.
Encerrando sua fala, a diretora reforçou que inovação exige clareza de prioridades, gestão orientada a dados e compromisso com a realidade brasileira. “Não adianta pensar muito além da nossa realidade. O Brasil é um país muito assimétrico em termos de necessidades e de desenvolvimento, e é preciso olhar para isso”, concluiu.